Fundada em 1719, a então Vila Real do Bom Jesus de Cuiabá surgiu da descoberta e exploração de ouro na região por bandeirantes paulistas, resistindo historicamente ao longo de quase três séculos na medida em que o país desenvolveu-se enfaticamente ao longo do litoral.
Nestes quase três séculos, a cidade produziu singularidades em suas práticas culturais, nas mais diversas áreas: gastronomia, artesanato, sotaque, música, dança, modos de sociabilidade.
A cultura tradicional cuiabana é, em larga medida, herança das relações interétnicas que caracterizam a história do Brasil e está ligada diretamente em especial ao cotidiano dos segmentos da classe trabalhadora.
As práticas culturais tradicionais se reproduzem ao longo dos anos na medida em que distintas gerações de cuiabanos e imigrantes estrangeiros e brasileiros vinculam-se econômica e/ou afetivamente ao local e agregam sentidos à herança dos que viveram nestas terras em séculos anteriores.
A própria população cuiabana veio se constituindo historicamente, desde o século XIX, de grupos de imigrantes estrangeiros. Portugueses, desde o Brasil Colônia. Italianos começaram a chegar na virada do século XIX para o século XX. Turcos, árabes e judeus, ao longo do século XX. Japoneses, a partir da década de 1960.
Dados históricos apontam que a cidade recebeu também número significativo de população originária do Nordeste do país, em especial dos sertões.
Isto num estado como Mato Grosso, onde habitam inúmeras etnias indígenas e onde ainda resistem vários povoados originários de quilombos, que agregam uma variedade linguística à cidade e ao seu entorno regional. Enquanto se lê este texto em português, mais de vinte línguas indígenas são faladas em Mato Grosso neste momento.
A partir da década de 1980, a cidade e o estado receberam nova leva de imigrantes oriundos de várias regiões do país, com ênfase em populações do Sul-Sudeste, em busca de novas oportunidades de trabalho.
Cuiabá tem sido a Outra de si mesma, terra de estranhamento contínuo, culturalmente produzindo uma longa experiência de tolerância e exercício de uma vida cosmopolita nas bordas entre o cerrado e o Pantanal Mato-grossense.
A Cuiabá de ruas tortas, onde o poeta Manoel de Barros informou ter vindo ao mundo, é também a cidade das avenidas onde não se anda uns trezentos metros sem fazer uma curva.
Para uma cidade que enfrenta os processos de modernização a cada período (com os inúmeros problemas urbanos decorrentes), é razoável afirmar que os saberes tradicionais (caipiras, “atrasados”, matutos, sertanejos, selvagens) são o que de mais consistente a ser mostrado a quem chega a estas plagas.
Bem-vindo a Cuiabá!
