Apresentação

FOLKCOM 2015

XVII Conferência Brasileira de Folkcomunicação

A XVII Conferência Brasileira de Folkcomunicação será realizada de 10 a 12 de junho de 2015 na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), em Cuiabá. O evento é organizado pela Rede Brasileira de Pesquisa e Estudos da Folkcomunicação (Rede Folkcom), que agrega professores, pesquisadores e alunos de pós-graduação e de graduação em todas as regiões do país.

O tema central do evento de 2015 na UFMT/Cuiabá, será “Folkcomunicação e Pensamento Decolonial na América Latina”.

A Folkcomunicação, disciplina criada no âmbito da universidade brasileira, e o Pensamento Decolonial, que se desdobra no âmbito da universidade latino-americana, constituem duas instâncias de crítica da modernidade e da colonialidade, nos campos da comunicação e da cultura.

Em 2015, a Folkcom será realizada em parceria com o Programa de Pós-Graduação (Mestrado e Doutorado) em Estudos de Cultura Contemporânea (ECCO) e o Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal de Mato Grosso.

Na UFMT, a organização local conta com participação direta de grupos de pesquisa atuantes que induzem a Linha de Pesquisa em Comunicação e Mediações Culturais em diálogo direto com as Linhas de Pesquisa em Poéticas Contemporâneas e Epistemes Contemporâneas.

No âmbito da Rede Folkcom, a organização do evento de 2015 conta também com apoio de membros do Programa de Pós-Graduação em Estudos da Mídia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PPGEM-UFRN) e do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (PPGJor-UEPG), além do acompanhamento constante da Cátedra Unesco de Comunicação para o Desenvolvimento Regional da Universidade Metodista de São Paulo (Umesp), através do professor José Marques de Melo.

Em Cuiabá 2015, a Rede Folkcom contará com representantes de duas redes de pesquisa: o Centro de Estudios y Actualización en Pensamiento Político, Decolonialidad y Interculturalidad (Ceapedi), com sede na Universidade de Neuquén (Argentina), e da Rede Centro-Oeste de Pesquisa em Artes, Cultura e Tecnologia (Rede CO3), que agrega pesquisadores de universidades da região Centro-Oeste do Brasil.

Nesta tessitura de redes de pesquisa, a XVII Conferência Brasileira de Folkcomunicação buscará promover um diálogo simultâneo com pares de países da América do Sul (nesta edição, Argentina e Chile), mas voltando-se sempre para a busca dos pares nos interiores do Brasil.

O movimento de internacionalização, necessário e produtivo, precisa ser acompanhado de um movimento de interiorização da pesquisa e dos debates sobre o que significa, em perspectiva folkcomunicacional e decolonial, a produção de saberes no mundo contemporâneo.

Isto considerando que a Rede Folkcom já tem participação histórica de professores e pesquisadores de vários estados brasileiros, notadamente do Nordeste e do Sul-Sudeste, buscando aproximar-se dos pares do Norte e do Centro-Oeste.
O vigor da Conferência Folkcom, nos dias de hoje, constitui-se na potência de investigação ligada diretamente aos grupos de pesquisa em funcionamento no país e, cada vez de modo mais intenso, aos programas de pós-graduação stricto sensu em Comunicação e em áreas correlatas.

Tema central em Cuiabá 2015: Folkcomunicação e Pensamento Decolonial

Desde o século XVI, a matriz colonial de poder se fixa na gestão da economia, da autoridade, do gênero e da sexualidade, da subjetividade e do conhecimento, e faz do controle do conhecimento uma ferramenta fundamental de controle e domínio de todas as outras esferas sociais.

A crítica decolonial é um pensamento que surge da experiência de se viver na exterioridade, nas fronteiras criadas pela expansão histórica da colonialidade, desde a época do descobrimento do Brasil e das Américas, sobre a diversidade linguística, religiosa, social, subjetiva, econômica e política que constitui a multiplicidade que habita o mundo.

O pensamento decolonial é uma opção – ela própria decolonial – de coexistência ética, política e epistêmica, embora não se trate de uma existência pacífica, mas de conflitos e de reivindicações, de “re-existência” em todas as situações do pensar e do viver. A matriz colonial de poder, foco da crítica decolonial, criou uma “idéia de América Latina”, que tem como horizonte o controle da economia e da autoridade, o controle do conhecimento, da subjetividade e dos sujeitos, do gênero e da sexualidade através de processos de normatização sexual.

Na perspectiva decolonial, a cultura está sempre entrelaçada com os processos da economia política, não sendo considerada apenas uma variável dos processos econômicos. Assim como no bojo dos estudos culturais e dos estudos pós-coloniais, os estudos decoloniais reconhecem a estreita interação entre capitalismo e cultura.

Nessa perspectiva teórica, demanda-se entender o capitalismo global, considerando o modo como os discursos raciais organizam a população do mundo em uma divisão internacional do trabalho que tem implicações diretas no campo econômico. A crítica decolonial parte de um diálogo intenso com os conceitos de colonialidade (Anibal Quijano), transmodernidade (Enrique Dussel) e pensamento de fronteira (Gloria Anzaldua), que inclui ainda o amplo lastro crítico de pensadores como Walter Mignolo, Ramón Grosfoguel, Arturo Escobar, Catherine Walsh, Santiago Castro-Gomes e outros.

A perspectiva decolonial desenvolve-se através de uma rede de pesquisadores latino-americanos, preocupados em construir um campo teórico capaz de revisar os cânones das Ciências Sociais e Humanas, a partir de questões que, sem desconhecer a crítica marxista, consiga dar conta de propor uma virada em nível epistemológico.

Em especial após a Segunda Guerra Mundial, a retórica salvacionista da modernidade, em sentido amplo, celebra o desenvolvimento como condição de “estar no mundo”. Quais tem sido, afinal, as experiências de modernização para amplas faixas da população no continente latino-americano, enfaticamente a população brasileira? Sabe-se, de antemão, que a experiência de modernização ou de desenvolvimento tem sido a de um enquadramento nas margens da experiência moderna.

Uma das teses principais da perspectiva decolonial, na análise do capitalismo como sistema-mundo, é que o âmbito discursivo-simbólico tornou-se um âmbito constitutivo da acumulação de capital em escala mundial desde o século XVI. É neste ponto que a crítica decolonial, com relação a sujeitos que vivem na exterioridade do mundo, tangencia um tema relevante na teoria folkcomunicacional: a produção de sujeitos marginalizados pela dimensão de classe social e, também, pelos modos – igualmente marginalizados – de produção simbólica nos campos da arte, da cultura e da comunicação.

De modo preciso, a interface entre folkcomunicação e pensamento decolonial se dá na “comunicação dos marginalizados”, analisada por Luiz Beltrão, como modo de expressão popular que não necessariamente se refere às modernas parafernálias das tecnologias da comunicação, mas a modos táticos e epistemicamente singulares de comunicação de amplos setores da sociedade civil, o que inclui práticas folclóricas e práticas midiáticas hoje enredadas na imaginação da cibercultura.

Nos estudos folkcomunicacionais tem ficado evidente que nem tudo que se moderniza necessariamente se ocidentaliza, e também nem tudo que se ocidentaliza necessariamente se moderniza. Esta tem sido uma das grandes tensões que os campos da comunicação e da cultura vivenciam como questão no mundo contemporâneo, e que os pesquisadores da Rede Folkcom vêm debatendo, em especial nas práticas da cultura popular e com ênfase nas práticas folclóricas como outros modos de saber, de conhecer e de se comunicar.

Desde sua primeira edição, em 1998, a Conferência Nacional de Folkcomunicação (esta era a designação do evento) vem colocando em pauta enfaticamente esta tensão entre a evolução tecnológica da comunicação, pensada como experiência de modernização via comunicação de massa ao longo do século XX, e os usos táticos e nem sempre modernos das práticas folclóricas e populares como modos de expressão de amplas faixas da população civil ainda no bojo do século XXI.

A comunicação, na perspectiva das margens sociais, embora estas margens sejam difusas, recoloca em pauta desde 2013, com os protestos de milhares de pessoas nas ruas das cidades brasileiras, o que significa, do ponto de vista da comunicação, o estar e permanecer à margem (econômica e simbolicamente) nos dias de hoje. E, neste caso, qual é, em sua dimensão epistêmica, o significado das práticas comunicacionais como ferramentas de subjetivação e de produção da cidadania em meio aos processos de modernização e ocidentalização do mundo? 

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